domingo, 15 de fevereiro de 2009

Limpíssima




Estava casada há 24 anos e, durante todo este tempo, tudo que tinha feito, era ter sido uma boa esposa, ótima mãe e de 16 anos para cá adquiriu a mania de limpeza.
Passava pano no chão pelo menos 4 vezes ao dia em cada comodo da casa, o banheiro era lavado duas vezes, nunca deixava a roupa para lavar no final de semana, via que estava suja e já lavava, não havia pó em nenhum canto da casa, tudo era brilhante, organizado, perfeito.
O marido era um bom homem, trabalhador e ótimo pai. Vez ou outra tomava sua pinguinha, mas nada de alterações, sempre modorado. Ficava encucado com as atitudes da mulher, chegava ter medo de entrar na sala usando sapatos ou chinelos, procurava não sujar roupas de modo algum, ficava preocupado com tudo que fosse fazer, evitava o mínimo de desorganização.
O sexo por sua vez, era o mesmo da rotina dos dois. Não mudavam a posição, mal tiravam a roupa e sempre que acabava, ela procurava qualquer vestígio de sujeira, e se encontrava, a briga durava horas noite a fora.
Com toda esta obsessão por limpeza, o marido aos poucos foi deixando de procurá-la, sempre tinha uma desculpa na ponta da língua. Verdade era que a mulher não era lá aquelas coisas na cama, mas nunca negou que gostava bastante, pois ela o cobrava, mas o ato sexual se tornara incomodo para o marido.
Desde o início do ano, ela vinha planejando a comemoração do 25º aniversário de casamento, fizera listas para tudo, desde convidados até horários de servir e limpar. O marido acompanhava tudo de longe, procurava não se intrometer e deixar que a mulher resolvesse tudo a sua maneira. Porém, isto tudo o deixava cada vez mais infeliz com a situação.
O dia chegara e a casa estava um brinco. Os convidados iam chegando e ficando um a um impressionados como a esposa, após 25 anos de casada ainda conseguia manter a casa como se fosse de boneca, ela orgulhosa dizia que era parte dela, que gostava dela assim e que tinha a colaboração do marido. Isto tudo o fazia odiar cada vez mais.
Cada passo que os convidados davam, lá estava ela atrás para arrumar, até ela se incomodou, viu que aquela mania estava insuportável, mas era mais forte que ela, pois não parava.
Fim de noite, casa vazia e ela sedenta de amor. O marido já ia disfarçando, dizendo que estava cansado, com sono e, a cada desculpa ela ia se enxendo de raiva e tristeza. Abriu uma garrafa de vinho, e como não estava acostumada a beber, na primeira taça já ficara bem alterada. A intenção era acabar com a garrafa toda, mas no segundo copo mal se mantinha de pé.
Se encheu de coragem, subiu as escadas e abriu a porta do quarto já tirando a roupa para o marido. Ele quase não ligou, pois não queria que fosse sempre a mesma coisa, só de imaginar o que aconteceria no final, não se empolgava com o começo. Ela, mesmo percebendo o que estava acontecendo, fingiu que não viu e foi logo para cima dele. Ele tentava desviar, mas seu corpo reagia, ela aproveitou a situação e se transformou. Deixou de ser a mulher comportada e passou a ser uma devassa.
O marido se assustou, mas aproveitou a situação, mesmo sabendo que a briga poderia ser mais longa que o normal aquela noite. A mulher, de tamanha empolgação, implorou que ele a xingasse de tudo que fosse mais sujo, que a sujasse com palavras e saliva, ele obedeceu as ordens da mulher e ao final de tanto xingamento e na explosão de sabores, ele grita "PUTA".
Ela gozou feliz e não limpou a cama.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Cinema e realidade



Desta vez não vou fazer poesia nem conto...vou dar uma de crítica, ou poderia dizer, mera curiosa, sendo que não tenho autoridade para falar nem julgar o trabalho de tão brilhantes artista. Falo de Claudio Assis (Diretor de "Amarelo Manga" e "Baixio das Bestas") e Mateus Nachtergaele (ator e agora diretor de "A festa da menina morta").
Digo curiosidade por se tratar realmente da vontade de saber até que ponto a arte imita a vida.
Estive pensando como o cinema trata da realidade, se esta é sua finalidade e qual a necessidade de mostrar algumas coisas no cinema que de repente nem são necessárias, bastava a insinuação, se realmente fosse importante para a situação.
Bom, ambos os diretores em muito me agrada, admiro o trabalho deles e os respeito como bons profissionais de suas áreas. A atuação do Mateus é brilhante, ainda não vi o filme que dirigiu, e a direção do Cláudio, é fabulosa, consegue extrair dos atores o que há de mais sombrio em cada um.
Em "Amarelo Manga", a preocupação do diretor é tratar da periferia do Recife, deixa de lado a parte bonita do lugar, nem passa perto da telona o paraíso terrestre que aquela terra pode ser para mostrar o que de obscuro tem em cada um dos moradores de um pulgueiro chamado Texas Hotel, um dos personagens, vivido por Jonas Bloch, faz o papel mais bizarro, ele gosta de matar o que já está morto, compra cadávares para ficar atirando neles, e a cena mais bizarra é quando ele passa o dedo num cadáver e depois experimenta, como se provasse uma comida. A pergunta é: embora a atuação tenha sido perfeita, em qual momento era necessário isto? Em qual parte do filme teria feito falta esta cena se ela não tivesse ocorrido? Aí que complica, qual a intenção do diretor?
N'O Baixio das Bestas, o título é claro, ele transforma homens em bestas, e de fato o filme inteiro é deste jeito, a podridão humana é levada ao extremo, mas num dado momento, há uma cena de estupro, onde creio que por bom senso, não foi revelado a carne, mas ficou somente na sombra, mas percebeu-se claramente o que ocorria, uma prostituta é estuprada brutalmente por mais ou menos cinco rapazes,e o instrumento utilizado para estuprar foi um pedaço de pau. Oras! Pra que isso? Não creio que houvesse aí a necessidade de mostrar este tipo de coisa. Ele conseguiu chocar, quando assisti ao filme quase saí da sala, mas como sou louca por cinema, permaneci. E, apesar de assistir o filme até o fim, não consegui encontrar nada que obrigasse esta situação. Certo é que há uma cena em que Mateus Nachtergaele olha para a camêra e diz como se dissesse diretamente para o expectador que "o bom do cinema é que você faz o que quizer".
Dado esta frase, que é muito interessante, o que o diretor quiz dizer? será que ele tem vontade de fazer tudo aquilo e não o faz porque a vida real não permite? Muito estranho.
Não to falando de moral e bons costumes, mas da necessidade ou não de algumas coisas que talvez não devessem ser levadas para a 7ª arte.
No filme "A festa da menina morta", tem outra cena, que ainda não vi, mas li a respeito, que há uma situação de incesto entre pai e filho. O pai sodomiza o filho. O pessoal de Cannes se assustou e saiu no meio da exibição. Deve ser um grande filme, mas bato na mesma tecla: "Pra que isso?". Será que o momento pediu uma coisa tão absurda? Não estou afirmando que isto não acontece...sei lá, deve acontecer em algum lugar por aí, mas mostrar isto no cinema é necessário?
Será que a arte tem que contemplar a realidade, tipo, será que o cinema deve mostrar coisas da vida? Por que se for assim, este tipo de cinema não está contemplando nem uma situação nem outra. E, ainda se for assim, por que ser assim? O cinema não deveria tratar da realidade, cinema é cinema e pronto. Aquilo das telonas não é real
Bom, pode ser que a arte não precise de necessidade para se colocar, mas uma sodomização de pai e filho? Oras, não vejo isso como coisa a ser mostrada numa demonstração artística.
O que estou tentando dizer é que o cinema tem a finalidade de mostrar em imagens movimentadas o que a princípio eram só fotografias, imagens paradas, coisas assim, daí quando começam a movimentar as imagens, trazem pra ele qualquer coisa, tudo que é possível, desde coisas idiotas, como um super herói besta no meio de Nova Iorque, coisa que não se ve nunca na vida real, como coisas do tipo que citei acima, que nem sei se acontece...mas até que ponto é necessário este tipo de situação.
Alguns estudiosos dizem que a função do cinema é alienar, outros que é de despertar um senso crítico no expectador... Imaginem estes estudiosos vendo estes filmes? Qual seria a reação de cada um. Talvez o primeiro dissesse que isto incentiva a violência e o segundo, por sua vez, argumentaria que a violência diminuiria em função de achar o absurdo em cena. Mas qualquer um dos dois poderiam dizer que, embora tenha havido ótima atuação e direção (talvez eles diriam mesmo isto), o mesmo choque poderia ter sido causado de outro jeito sem ter que mostrar de forma tão cruel e banal a relação incestuosa de pai e filho.
Se o cinema tem somente a preocupação artística, sodomização incestuosa não creio ser arte, se o cinema for a arte imitando a vida, por sorte, não vivemos isto todos os dias ou, ainda se for assim, deixemos o cinema de lado e vejamos um tele jornal, por que daí é a realidade pela realidade, sem querer florear um negócio que só de ouvir falar já dá "coisas".
Enfim, amo cinema, vou assistir ao filme, mas acho que o cinema é pura arte e assim deveria ser tratado, não levado para este lado como se houvesse sempre a necessidade, mesmo que a situação não esteja pedindo a cena em questão, de chocar quem assiste, ou se o choque se faz necessário, porque pode acontecer, que ele não seja trabalhado desta maneira. Devem haver outras possibilidades.