sexta-feira, 10 de abril de 2009

A Recompensa


Ainda assim, por mais que o tempo passasse,e estivesse habituada ao trabalho, não havia para ela nenhuma recompensa. Lembrou-se que há tempos não tinha motivação para continuar, entretanto tinha consciência de que precisava.
Indo para o trabalho, às 05:30h da manhã, pensou novamente porque estava fazendo aquilo, porque havia acordado tão cedo, o que a motivava continuar a caminhada rumo a algo que nem sabia o que era...continuou andando e pensando.
Tropeçou, torceu o pé e quase quebrou o tornozelo. Desesperou-se: o que faria com uma perna quebrada? Como trabalharia?
Andou mais um pouco e a tormenta recomeçou, olhou para a bolsa, já estava agora no ônibus, mecheu em alguns pertences verificando se não havia esquecido nada, tentou ocupar a mente com outras coisas, tentou disfarçar o desapontamento das horas que estavam por vir, porém seu desespero aumentou quando percebeu tinha esquecido algo essencial para trabalhar.
Desceu do ônibus e andou devagar, como quem não queria mais chegar, sabia que precisava, que dali tirava seu sustento, mas não aguentava mais. Rodou um pouco pela cidade, esperou que algum boteco abrisse, entrou num qualquer e, para tomar coragem para o dia que surgia, pediu um bombeirinho, tomou numa golada só. Retomou o caminho...
Chegou ao trabalho as 07:30h da manhã, foi se trocar, colocou seu uniforme, prendeu o cabelo, pegou sua vassoura e espanador e logo foi arrumando o lugar onde iria começar dentro de poucas horas.
O lugar era fechado, não tinha vista para lugar algum, só havia a porta de entrada, não havia nenhuma janela, somente ar condicionado refrescava o lugar, ainda assim era muito incomodo. Havia também um carpete velho e empoeirado, assentos e no mais, só restava recepção e o batente.
Deu o horário de realmente trabalhar, fechou a porta, trocou novamente de roupa: Meia arrastão, bota cano alto, shorts curto, blusa regata, plumas e paetes, faltava o principal, o que a deixava incógnita, hoje não teria jeito, seria realmente vista, faltou sua máscara!
O primeiro cliente chegou, a música começou suave e ela começou dançar. À princípio, ele não notara falta de nada, ela na verdade nem via o rosto de ninguém, a música tocava suavemente quente numa cabine espaçosa. Ela dançava como um anjo, tirando peça por peça, seduzia-o sem mesmo o olhar.
Ao tirar a última peça ele a olhou no rosto e só então percebeu que estava de fato vendo a face da boa moça.
A dança acabou, ele foi feliz à recepção pagar pelo serviço, deixou uma gorda gorjeta e pediu que a recepcionista dissesse para a mocinha que esta era uma simples recompensa por tão belo rosto!
A recepcionista lhe deu o recado ao final do expediente, ela alegre, pegou o dinheiro e saindo do lugar foi direto a um bar vagabundo, chamou pelo garçon e lhe pediu: "Encha-me a cara, hoje tive minha recompensa!"