terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Quando
Quando não tiver mais jeito
Quando tudo que vier for fim
E não houver mais como
Não houver jeito nenhum
Vou procurar
Na puta que pariu
Num bar aberto,
Com uma garrafa de vinho barata
Vou procurar na embriaguez de um dia dia abafado
Uma coisa que me faça enxergar
Uma coisa que me deixe ver
Mesmo caída
Derrotada
Perdida
Com um cão vira-lata me lambendo a boca
Vou procurar um motivo
Dar um chute no saco do cão
Mandar tudo pra casa do caralho
Buscar dentro do meu coração
...
E quando o quando chegar
Dentre todas as coisas possíveis
E impossíveis
...também....
Eu encontrarei aquilo que nunca
Nunca, mas nunca mesmo
Saiu de dentro de mim
...
E quando tudo voltar
Quando o belo dia chegar
Estarei lá
Pronta para mostrar
O que jamais poderá negar:
Esta coisa louca que é amar....
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Sem fim do fim...
Era um domingo. Domingo a tarde de um sol quente, ardia a alma, os olhos e a boca. Havia nuvens carregadas no céu, mas nada que impedisse a claridade de tudo que acontecia.
A tarde passava lenta, dolorosa, nunca acabava...e quando acabou: desmoronou. Acabou o domingo, o sol, não teve estrelas, nem lua. Parecia noite de bruxa, tudo escuro, quente e vento forte, calado.
Depois de tanta dor, o correto seria sentir mais dor. Foi o que houve: mais dor, choro, desespero. Uma dor tão forte, que nem o corte fundo no pulso curava. Uma dor tão forte, quem nem todo vômito do mundo pode arrancá-la de onde estava.
Assim caia a madrugada de insonia, que nem a masturbação mais leve poderia curar. Houve um grande momento de pranto...tantas lágrimas que rolavam que cegou, não se podia ver nem a escuridão. As lágrimas salgaram mais ainda a boca, tapou os ouvidos, molharam os seios, mas não lavou o coração...a dor não passava.
Era assim que corria a madruga. Arrastada, cambaleante, perdida entre uma cochilada e um pesadelo. Indecisa entre a dor do pulso cortado e a ferida do peito aberta. As moscas começam a botar larvas no corte. Impossível saber em qual machucado, mas elas já devoravam cada pedacinho de carne, cada gota de sangue que rolava. Nem com toda esta dor a lembrança parava de atormentar.
A lembrança atormentou tanto que o óbvio apareceu: as lembranças surgiam de um lugar que não era no peito, nem nos dedos, nem no sexo, nem no pulso. Tampouco da garrafa de vinho vazia, do resto de fumo, do pouco de pó que restara. Ela simplesmente surgia. Vinha de um lugar que deveria ser calado, que o corte profundo deveria ter suplantado...
O corte não deveria ser no pulso. Era a cabeça que não parava. Ela que forçava a lembrança dolorosa de um domingo inacabado, de uma madrugada sem fim, da impossibilidade do amanhã, da chuva maneira, tinhosa, de verão inesperado que caia lá fora quando ninguém sabia dela, quando todos dormiam tranqüilamente esperando o dia de branco. Era a cabeça, ela que precisava ser calada, e não o pulso, que carinhosamente ajudava manejar os dedos que acariciavam o sexo na tentativa de obter algo semelhante ao desespero das nuvens carregadas que não tapavam o sol.
Então aconteceu... a lembrança foi calada, deixada. A lamina passou tão fundo na memória, doeu tanto e insuportavelmente, que rapidamente veio o escuro total e tudo ficou trancado dentro do quarto vazio, escuro...esquecido.
sábado, 8 de novembro de 2008
Partiu...foi-se!
terça-feira, 21 de outubro de 2008
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
Entregue a Deusa
domingo, 1 de junho de 2008
Ode ao burguês!
Viva Mário de Andrade.... isto é dele, claro!
domingo, 11 de maio de 2008
Pois é, não é?
quinta-feira, 17 de abril de 2008
O danado do tempo.
terça-feira, 25 de março de 2008
A função simbólica
Bom, ambos reduzem a existência humana a uma simples "barata", e o que esta barata simboliza? Vejo claramente uma denuncia afiada da burguesia, todas suas angústias, tristezas, insatisfações e maior ainda, uma verdadeira decepção com a condição de burguês, principalmente na obra de Clarice Lispector.
Os símbolos neste textos tem a função de nos mostrar, mesmo que "escondidinho" uma coisa que não parece fazer sentido: "Como pode uma pessoa com dinheiro, com uma vida material sólida, ou até mesmo, uma pessoa que ainda tem a crença de que se trabalhar muito terá sucesso e crer nisto tão vivamente a ponto de continuar trabalhando e não perceber que não recebe nada em troca, achar que não passamos de insetos rastejantes e asquerosos". É disso que estou falando, ou melhor, que os autores falam.
Esta é a função simbólica através da literatura colocando às claras, mas de maneira deliciosa, o mundo perdido em que vivemos, que o mundo farto e cheio de bens materiais que temos a esperança de ter, não passa de uma ilusão capitalista afim da escravização da mente em prol de ricos que fazem esta lavagem cerebral. O que é melhor nos textos é que podemos tomar isto como ponto de partida para uma coisa maior que é a denuncia total deste sistema falido que muitos ainda depositam fé, é através dela que temos uma pontinha de esperança que as coisas podem mudar.
A compreensão dos símbolos não matam só a curiosidade, mas, a partir de sua compreensão podemos ensinar aos outros o poder da linguagem, como podemos mudar, se não todo, pelo menos parte do sistema.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
Mas que merda!!!
Estive pensando: como pode um negócio destes, um convite vir com uma condicional, não dá para acreditar. Não quero crer que sou uma vendida, que faria qualquer coisa pra ver meu nome publicado num livro logo abaixo de um conto que supostamente foi escrito por mim. Digo supostamente pois, depois de tantas mudanças sei que não é mais meu, mas para quem conhece, não irá me reconhecer nas entrelinhas.Não posso supor que a minha vidinha é tão mais ou menos que vou me vender por este preço, não sei se quero fazer isto só por um prazer tão passageiro destes.Até que ponto podemos chegar? Não, me recuso... prefiro ficar em casa tomando uma boa xícara de café ao ir no lançamento de algo que não é meu!!!
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
a mulher e a galinha
O homem ficou ali parado durante muitas horas pensando no que seria sua vida. As horas passavam e ele não sentia, não percebia, passavam vãs na sua mente como se não existissem. Seu pensamento voava longe como quem procurasse algo em um mundo desconhecido, procurando sem saber o alvo da procura.
Sua idade, ou como ele dizia, sua feliz idade não lhe teria trago até o momento nenhuma grande recordação, nada do que pudesse se orgulhar, nenhum grande amor, nenhuma grande conquista, nem poder, nem nada, era somente vida sem vida. Seu coração às vezes batia mais acelerado, mas normalmente isto só acontece quando alguma lembrança vem à mente, porém não era isto que ocorria com ele, acontecia vindo do nada, sem nenhuma explicação plausível.
Morava num pequeno apartamento de três cômodos, não muito confortável nem bonito, mas tinha como viver nele sem nenhum empecilho. Este imóvel era sua única grande conquista, trabalhou muito para consegui-lo e, de uns tempos para cá, havia deixado de lutar para mante-lo, não por covardia, mas por simples cansaço. Era demasiado cansativo trabalha para si próprio sem nenhum propósito, não tinha pelo que ou por quem lutar, era solitário, as poucas companhias que teve desde que conseguira seu apartamento foram algumas prostitutas que lhe cobraram bastante caro pelas duas horas e meia de companhia, mas agora não fazia mais sentido chama-las para acompanhá-lo.
Lembro-se vagamente de uma mulher pouco atraente, mas bastante inteligente que ás vezes lhe telefonava, fazia já algum tempo que ela não aparecia, sentira até um pouco de saudade, e foi então que teve uma recordação bem agradável de uma das ultimas vezes que tinha tido com ela.
Lembrou-se que tinha saído para jantar, fizeram uma boa opção no cardápio, a comida vegetariana muito lhe agradava. Optara por ser vegetariano desde quando era criança e viu seu pai matar uma galinha na sua frente, a agonia do bicho ao sentir seu pescoço ser quebrado fez o garoto não comer carne pensando no sofrimento do bicho, e naquele instante, no momento da morte do bicho pensou que fosse ele também mataria para dar parada ao sofrimento do pobre animal. E porque tinha pensado nisto agora?
A mulher que há tempos não via o fez ter saudade agora, foram para a cama uma vez e descobriu naquele instante que era a primeira vez que ela ia para a cama, ele ficou assustado, porém se sentiu lisonjeado. Era estranho uma mulher naquela idade não ter saído com ninguém até agora e, não compreendia por que fora ele o escolhido.
Junto com a saudade veio também uma angustia inexplicável que fizera seu coração bater descontroladamente quase lhe causando dores, as duas lembranças começaram a ficar confusas na sua mente, a galinha morrendo, agonizando e a mulher na sua cama. A dor no peito aconteceu de fato a ponto de fazer o homem cair no chão. Caído, olhou sem querer para o espelho enorme que tinha em seu quarto, seu grande luxo, o reflexo o assustou, viu a mulher deitada sem vida em sua cama.
Agora as coisas já faziam sentido, mesmo que não tivesse nenhuma razão lógica para o fato. A mulher estava morta. Ele a matara para não dar continuidade a sua dor de primeira vez. Ele se assustou e se entristeceu ao ver que a mulher sentia dor enquanto ele a penetrava e, por não saber o que fazer, pois não sabia como tratar uma mulher tão pura, assustado com sua face que demonstrava dor e prazer, só se fixou na dor e não quis mais vê-la sofrer, apertou seu pescoço até lhe faltar completamente o ar matando-a. Não teve maldade naquele instante, somente pena do sofrimento que ele imaginava que ela estava passando, só quis poupá-la.
Chegou perto do corpo e viu que ela estava com expressão de risos, mas desesperada, senti-se sufocado com a visão, sua dor aumentou, o peito latejava, arrastou-se até perto do espelho que ainda refletia a mulher morta, a dor aumentando, teve um alavanco no corpo como se estivesse sendo eletrocutado, batendo sua cabeça no vidro fazendo ele em pedaços, os cacos caíram a sua volta, a dor não parava e ele já estava cansado de sofrer aquela dor e aquela visão. Uma lagrima rolou salgada em sua boca, o gosto do desgosto lhe deixou mais desesperado e um pedaço de vidro fora sua salvação.
A vida não lhe passou na mente nos últimos instantes de vida, afinal não tinha do que se recordar, só se lembrara da mulher e da galinha.
sábado, 5 de janeiro de 2008
O Pecado
Ela passeava pelas ruas sujas, e a cada vez que passava frente a uma igreja, fazia o sinal da cruz. Essa intimidade com que é sacro dava-lhe um pouco mais de esperança.
Toda manhã era igual... Acordava já com olheiras, sempre doía ao por os pés no chão, e toda vez, ao dar o primeiro passo, suspirava. Caminhava até o banheiro...limpíssimo, cheirava bem... lhe trazia tranqüilidade, mas ao olhar no espelho nunca compreendia o que via.
Ligava o chuveiro como se fosse uma dama, mas com muito pesar deixava a água fria escorrer-lhe e, instintivamente, podia quase sentir suas manchas indo todas levadas com o sabão pelo ralo.
Enrolada numa toalha branca, quase rastejava até a penteadeira. Os cabelos molhados dava a ela impressão de pureza... lisos, na altura do ombro, negros quase azuis, era o que tinha de mais belo. Não combinavam absolutamente nada com sua pele ou com seus olhos, ela definitivamente, não era bonita. Tinha seu charme, a leveza de seu andar e o sorriso acolhedor eram seus verdadeiros atrativos.
Penteava-se, punha sempre e somente pela manhã uma roupa leve, discreta e que escondia qualquer possibilidade de sua sensualidade. Saía pelas ruas sem dizer bom dia a nenhum vizinho, com a cabeça baixa, como que envergonhada. Entrava nas lojas e farmácias para comprar o de sempre, os vendedores já a conheciam, porém não tinham idéia de qual era seu nome.
Ao voltar para casa, já passava da hora do almoço, suas colegas de casa já haviam almoçado. Fez um lanche, levou para seu quarto e não conversou com ninguém.
Antes de comer, ajoelhou-se e rezou. Sua primeira frase foi um pedido de perdão já coberto de lágrimas, rezou ... e rezou mais um pouco, agradeceu pela comida, levantou-se e comeu.
Após comer, pegou um velho livro e folheou como quem procurasse um consolo, ou que pelo menos a fizesse esquecer um pouco. Achou no meio do livro um conto, era o que ela procurava. Tratava-se de uma mulher que não queria muito, um pouco só de felicidade lhe bastava, uma felicidade passageira, mas que a fazia sentir viva, útil e mulher*.
Sem perceber, já estava quase anoitecendo. Uma angústia enorme tomou conta de seu peito, mas buscou forças, levantou-se, foi se trocar. Abriu seu roupeiro, tirou de lá uma calça de couro feita sob medida para ficar bem justa... uma blusa curta e decotada, as sandálias eram o toque especial: salto bem alto, solado grosso, tema de pele de onça. Estava pronta.
Algum tempo depois gritaram seu nome. Ela passou um batom vermelho, olhou-se novamente no enorme espelho atrás da cama, suspirou e... desceu.
Ao chegar ao final da escada já havia alguém esperando. Era o mesmo de duas semanas atrás.
Entraram no quarto, ele foi logo avisando que queria algo novo, talvez uma dança. Ela prontamente colocou uma música e se pos a dançar. Hoje ele não queria meia hora, poderia ficar a noite toda... ela engolia a seco, dançando e tirando a roupa....
Ele olhava deliciosamente para sua musa, e há muito já sentia a reação de seu corpo.
_ Deite-se.
Ela obedeceu.
_ Vire-se
Ela virou.
Ele pousou sobre ela e beijou-lhe todo o corpo, desde a nuca até os pés. Bruscamente, colocou a moça de frente, olhou em seus olhos e percebeu sua excitação. Beijou seu pescoço, seus ombros, seus seios, lambeu sua barriga e parou diante de seu sexo. Ficou olhando durante um tempo, depois passou o dedo e provou, como quem prova a massa de um bolo... nesse momento ela gemeu.
Não resistindo nem mais um minuto e ele já estava em cima dela, num movimento frenético de entra e sai e, neste movimento, um pingente de crucifixo de sua corrente batia contra o rosto dela. Ela percebeu e assustou-se com o que ela achava que era um sinal... era Deus querendo dizer alguma coisa. Mas tudo a estava excitando mais...e mais...e mais...até que não agüentaram e ambos gozaram.
Numa explosão de gemidos e balanços, o crucifixo entrou na boca dela e ela. Ela chorou.
Ao final de tudo, ele já vestindo suas roupas, ele pergunta:
_ Quanto devo?
_ Duzentos reais.
_ Estão na cabeceira.
_ Obrigado ... só uma pergunta: Porque voltou?
_ Porque você é a única puta que conheço que goza de verdade e com gosto... Acho que gosta do que faz!
Logo pela manhã, ela se arrumou como todos os dias, saiu apressada pelas ruas. Entra numa igreja e vai direto ao confessionário.
_ Padre... perdoe-me, pois pequei!